Poesia e Amor
Casimiro de Abreu
A tarde que expira,A flor que suspira,O canto da lira,Da lua o clarão;Dos mares na raiaA luz que desmaia,E as ondas na praiaLambendo-lhe o chão;
Da noite a harmoniaMelhor que a do dia,E a viva ardentiaDas águas do mar;A virgem incauta,As vozes da flauta,E o canto do nauta
Chorando o seu lar;Os trêmulos lumes,Da fonte os queixumes,E os meigos perfumesQue solta o vergel;As noites brilhantes,E os coces instantesDos noivos amantesNa lua de mel;
Do templo nas navesAs notas suaves,E o trino das avesSaudando o arrebol;As tardes estivas,E as rosas lascivasErguendo-se altivasAos raios do sol;
A gota de orvalhoTremendo no galhoDo velho carvalho,Nas folhas do ingáO bater do seio,Dos bosques no meioO doce gorjeioDalgum sabiá;
A órfã que chora,A flor que se coraAos raios da aurora,No albor da manhã;Os sonhos eternos,Os gozos mais ternos,Os beijos maternosE as vozes de irmã;
O sino da torreCarpinho quem morre,E o rio que correBanhando o chorão;O triste que velaCantando à donzelaA trova singelaDo seu coração;
A luz da alvorada,E a nuvem douradaQual berço de fadaNum céu todo azul;No lago e nos brejosOs férvidos beijosE os loucos bafejosDas brisas do sul;
Toda essa ternuraQue a rica naturaSoletra e murmuraNos hálitos seus,Da terra os encantos,Das noites os prantos,São hinos, são cantosQue sobem a Deus!
Os trêmulos lumes,Da veiga os perfumes,Da fonte os queixumes,Dos prados a flor,Do mar a ardentia,Da noite a harmonia,Tudo isso é – poesia!Tudo isso é – amor!
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Por: Redação do Migalhas
Atualizado em: 23/9/2003 09:36