O impacto da IA na tomada de decisões empresariais   Migalhas

O impacto da IA na tomada de decisões empresariais – Migalhas

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A IA – inteligência artificial tem avançado rapidamente, mas, apesar de seu conceito vasto e em constante evolução, ainda não há uma definição única e consensual. Contudo, uma definição amplamente reconhecida por especialistas como Russell e Norvig descreve a IA como um agente – seja um software ou robô – que recebe percepções do ambiente por meio de sensores e faz escolhas sobre como agir a partir dessas informações.

Enquanto a automação convencional se limita a executar tarefas repetitivas e predeterminadas, a computação cognitiva vai além ao avaliar dados complexos e identificar padrões ou correlações. Com isso, ela constrói alternativas e faz escolhas fundamentadas em um método que simula a análise humana. Esses processos decisórios variam de aspectos estratégicos, como determinar investimentos em novas unidades produtivas, até decisões mais executivas e específicas, como diagnósticos médicos.

Dessa forma, a tecnologia tem o potencial de transformar diversos aspectos, indo além das operações empresariais, mas também afetando a maneira como as indústrias e setores inteiros se organizam e evoluem, oferecendo soluções mais rápidas, eficientes e otimizadas.

Impactos sociais e profissionais da inteligência artificial

De fato, a interação entre Inteligência Artificial e seres humanos nas decisões organizacionais está transformando aceleradamente alguns aspectos do mercado laboral. Embora ainda existam muitas incertezas sobre como isso afetará a sociedade, uma coisa é clara: A atribuição de funções e o papel humano em variadas atividades serão, sem dúvida, alterados nas próximas décadas.

Dentro desse cenário, espera-se que a transição seja realizada de forma gradual, por meio de etapas de integração em que a tecnologia complementa o trabalho humano. Esse modelo híbrido oferece uma adaptação mais suave, permitindo que as pessoas aprendam a atuar ao lado da IA, utilizando sua capacidade para aprimorar os resultados.

No entanto, essa transformação não será rápida nem simples. A introdução em larga escala dos sistemas inteligentes nas instituições e na sociedade terá efeitos sociais significativos e variados. Esses impactos não serão homogêneos; em diferentes regiões geográficas, setores econômicos e profissões, os efeitos serão sentidos de maneiras distintas. 

Por exemplo, enquanto algumas indústrias podem adotar rapidamente a IA para automatizar processos, outras, como as áreas de saúde ou educação, enfrentarão desafios maiores de adaptação, exigindo novos tipos de treinamento e reconfiguração de práticas estabelecidas.

De acordo com um estudo da IBM com a Morning Consult (2021), três fatores principais impulsionam a sua adoção pelas organizações: O maior acesso à tecnologia, as necessidades de negócios em constante evolução e a implicação da pandemia de Covid-19. Esses elementos têm pressionado os decisores a integrar a computação cognitiva nas operações empresariais, buscando otimizar procedimentos e também se posicionar à frente em uma era digital crescente. 

No entanto, à medida que mais corporações abraçam essas ferramentas, a transformação social e as repercussões no mercado de trabalho serão questões centrais a serem gerenciadas ao longo dessa transição, que pode se estender por várias décadas.

Como funciona a aplicação da IA na tomada de decisões

Implementar a Inteligência Artificial nas empresas tem se mostrado um desafio, já que exige investimentos tanto em recursos tecnológicos e infraestrutura, quanto em capital humano. Isso porque não basta apenas integrar as ferramentas, mas também é sobre garantir que os executivos compreendam as implicações competitivas dessa transição para o ambiente digital.

A pesquisa “Tomada de decisão nas organizações: o que muda com a Inteligência Artificial?”, de Abraham Sin Oih Yu e colaboradores, oferece uma análise de como essa inovação está sendo integrada aos processos resolutivos nas corporações. 

O estudo explora como esse recurso inovador pode influenciar as escolhas comerciais, transformando a maneira como os gestores fazem suas escolhas estratégicas e técnicas. A integração de uma tecnologia tão avançada requer uma mudança cultural e organizacional, com a capacitação dos líderes empresariais para entender o seu potencial nas operações do negócio.

Além disso, a metodologia adotada no estudo proporciona uma percepção clara de como a computação cognitiva está sendo empregada em variadas áreas funcionais. Alguns pontos importantes abordados na pesquisa incluem:

Mapeamento detalhado das aplicações de IA

Uma das principais descobertas do estudo é o mapeamento detalhado das diversas aplicações de IA em diferentes departamentos das empresas. O marketing, as operações e as finanças se destacam como os setores mais receptivos ao uso da ferramenta, com diferentes recursos sendo implementados para otimizar procedimentos, prever tendências e fazer suas considerações. 

No marketing, sistemas inteligentes estão sendo cada vez mais utilizados para personalizar a experiência do cliente, ajustando as ofertas de produtos e serviços com base em seus comportamentos, preferências e interações anteriores. Essas tecnologias permitem que as empresas criem campanhas publicitárias mais direcionadas e eficazes, aprimorando os canais de comunicação e aumentando o engajamento.

Nas operações, tem sido empregada para automatizar etapas logísticas, aprimorar a cadeia de suprimentos e o fluxo de trabalho interno. A tecnologia permite interpretar dados em tempo real, identificar ineficiências e sugerir melhorias, impactando diretamente a produtividade e a redução de custos. 

Já nas finanças, a ferramenta sé utilizada para realizar análises preditivas, prever tendências econômicas e identificar riscos econômicos. Além disso, a sistematização funciona para a revisão de transações, a detecção de fraudes e o gerenciamento de portfólios de investimento.

Classificação das aplicações

Outro ponto relevante da pesquisa é a classificação das aplicações de IA em duas categorias distintas: Tomada de decisão (DM) e sistema de suporte à decisão (DSS). 

No caso da DM, a Inteligência Artificial assume a responsabilidade de determinar o final com base em um conjunto de informações e critérios predefinidos. Por exemplo, em áreas como a financeira, ela pode ser utilizada para definir algum passo sobre investimentos, determinando automaticamente onde alocar recursos com base em padrões históricos de desempenho e análises preditivas.

Da mesma forma, na indústria de seguros, é possível executar informações de clientes e determinar a aceitação ou não de uma apólice, sem intervenção pessoal direta. A principal vantagem aqui é a eliminação de erros humanos e a capacidade de processar dados em escala em um curto tempo.

Já nos DSS, a computação cognitiva não dá a resposta final, mas oferece recomendações e interpretações que ajudam indivíduos nessa função. Nesse caso, ela funciona como complemento à habilidade pessoal, fornecendo parâmetros para uma determinação mais assertiva. No setor jurídico, por exemplo, sistemas podem auxiliar os advogados a analisar a jurisprudência e identificar precedentes relevantes, mas a conclusão sobre como proceder no caso depende da experiência e interpretação do profissional.

Níveis de decisão

O estudo também destaca a aplicação da IA em diferentes níveis de decisão dentro das organizações: Estratégico, tático e operacional. No nível estratégico, ela tem sido usada para influenciar resoluções de longo prazo, como a definição de novos mercados para expansão ou a alocação de grandes investimentos. Isso porque a possibilidade de diagnosticar dados, identificar padrões e prever tendências futuras torna essa tecnologia um meio para conclusões de alto impacto e maior risco.

No nível tático, ela auxilia em escolhas de médio prazo, como a otimização de procedimentos internos e a melhoria na alocação de recursos. Nesse contexto, a ferramenta fornece percepções que ajudam a aprimorar a eficiência, como identificar gargalos nos fluxos de trabalho ou sugerir ajustes em etapas existentes.

Já no nível operacional, a computação cognitiva atua, por exemplo, na avaliação de estatísticas econômicas, o monitoramento de desempenho e a revisão de documentos. Essa automação de tarefas permite que as equipes foquem em atividades que exigem maior capacidade de análise crítica e julgamento, ao mesmo tempo que a IA cuida de processos mais rotineiros e repetitivos. 

Áreas decisórias

A pesquisa também proporciona uma visão detalhada das áreas decisórias, mostrando como a Inteligência Artificial está sendo empregada em funções determinadas dentro de cada instituição.

Por exemplo, no departamento de recursos humanos, ela pode atuar desde a triagem de currículos até a avaliação de desempenho e a previsão de rotatividade de colaboradores.

Isso porque é possível filtrar candidatos com base em parâmetros específicos, ajudando os departamentos de RH a fazer escolhas mais adequadas para a contratação e o desenvolvimento de talentos. Além disso, sistemas inteligentes podem oferecer orientações sobre o engajamento dos funcionários e sugerir ações para aprimorar a cultura organizacional e a produtividade.

Dados e informações

Um dos aspectos relevantes abordados no estudo é a importância dos dados para o funcionamento da IA. Isso porque, a qualidade e a quantidade das informações disponíveis são fatores determinantes para o sucesso das aplicações da tecnologia. 

Empresas que possuem acesso à grande quantidade de dados estruturados e bem organizados conseguem tirar melhor proveito dos sistemas inteligentes, implementando soluções mais precisas e eficientes. Por isso, o estudo destaca que, para que as corporações se beneficiem totalmente da inovação, é necessário que elas invistam também na coleta, ordenação e análise de registros, que são a base para a sua eficácia.

IA como ferramenta estratégica no Direito

A implementação da Inteligência Artificial no ambiente empresarial está criando novas abordagens e gerando uma série de desafios, mas também oferecendo oportunidades significativas. A adoção dessa tecnologia exige uma reconfiguração estrutural, cultural e estratégica nos negócios.

Na advocacia, o software jurídico se destaca como exemplo de como a inovação pode transformar a prática do Direito. A plataforma atua de forma eficaz na gestão de processos, revisão de documentos e controle financeiro, entre outras funções, sendo uma grande aliada no trabalho do advogado. Além disso, a assistente virtual, movida por IA, é capaz de realizar tarefas que tradicionalmente tomariam horas de serviço, como interpretar intimações, realizar cálculos de prazos e outras atividades operacionais.

O uso dessaferramenta, além de reduzir a carga de tarefas repetitivas e aumentar a produtividade, proporciona uma análise mais detalhada dos dados legais, como jurisprudência e doutrina. Isso permite que os profissionais do Direito façam escolhas mais fundamentadas e assertivas.

Nesse sentido, vemos que não apenas empresas, mas também escritórios jurídicos, podem se beneficiar notavelmente da Inteligência Artificial. Fica claro ainda que o investimento e adaptação precisa ser incorporado ao cotidiano das organizações, pois, em um futuro próximo, os sistemas inteligentes provavelmente serão uma parte indispensável do processo decisório de qualquer negócio.

Eduardo Koetz

Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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